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6.1 - Declinação magnética por volta de 1500

Quinta-feira, 17.10.19

A simulação de projecções para os valores da declinação magnética para o século XVI (e para séculos anteriores) é um exercício complicado e pouco fiável pois estas projecções são obtidas através de extrapolações a partir de dados que se conhecem do século XVII (primeiro século onde existem registos consistentes).

Dos modelos que aqui apresentamos (um para 1400, dois para 1500 e outro para 1590) e da informação recolhida na época, podemos concluir, com elevado grau de certeza, que a declinação magnética da Península Ibérica por volta de 1500 estaria contida num intervalo entre os três e os sete graus leste. De qualquer forma são evidentes as disparidades observadas em alguns modelos.

Iremos também apresentar uma tabela com dados conhecidos (observados e registados) sobre a declinação magnética em determinados lugares do planeta no século XVI tentando contribuir para a construção de uma matriz de dados sobre a declinação magnética de 1500.

 

dec1.png

dec2.png 

dec3.png

 Historic Declination Map -1590 (US Survey)

dec4.png

Earth_Magnetic_Field_Declination_from_1590_to_1990

 

 

Tabela de declinações magnéticas registadas na época dos Descobrimentos:

 

Local

Observador

Data

Declinação

Lisboa

João de Lisboa

1514

3º Leste

Lisboa

D. João de Castro

1538

7.5º Leste

Cabo da Boa Esperança

Vários

~1500

Zero

S. Vicente (Cabo Verde)

João de Lisboa

1514

Zero

São Miguel / Santa Maria

João de Lisboa

1514

Zero

Costa do Brasil

Hans Mayr (alemão)

1505

17º Leste

Costa do Brasil

D. João de Castro

1538

11.5º Leste

Sevilha

Alonso de Santa Cruz

1555

6º Leste

Chaul (India)

Pilotos Portugueses

1545

10º Oeste

Calecut

Pilotos Portugueses

1545

17º Oeste

Malaca

Pilotos Portugueses

1545

20º Oeste

Canárias

D. João de Castro

1538

5.5º Leste

 

 

Em função deste valores e da leitura dos diversos modelos disponíveis podemos construir a seguinte tabela resumo:

 

Valores médios estimados para a declinação

 

Local

Século XV

Século XVI

Lisboa

3º Leste

7º Leste

Madeira

2º Leste

6º Leste

Açores (Santa Maria)

Zero

3º Leste

Açores (Corvo)

1º Oeste

1º Leste

Canárias

2º Leste

6º Leste

Ceuta

6º Leste

8º Leste

Itália

6º Leste

8º Leste

Norte da Europa

6º Leste

5º Leste

 

 

Não se sabe exactamente desde quando se percebeu que o desvio entre o norte da agulha e o norte geográfico era variável de lugar para lugar, dependendo dos locais geográficos onde as agulhas se encontrassem (e da data também). Na instalação e montagem das agulhas de marear, era relativamente fácil detectar o desvio evidenciado pela agulha face ao norte geográfico (conhecido por exemplo através da culminação do Sol ou da Polar). Como havia tempo (assim o assumimos), esta operação podia ser repetida diversas vezes, em diversos dias, até se estabilizar em torno de um valor (que era o da declinação magnética local).

Assumindo que as embarcações portuguesas utilizavam agulhas genovesas, flamengas e francesas no século XV, que sabemos que utilizavam os ferros ferrados fora da flor-de-lis, então podemos concluir que o factor de correcção para a declinação magnética local (ângulo dos ferros com a flor-de-lis) era igual a cerca de seis graus, aproximadamente meia quarta (fig. nº39). A declinação em Lisboa (e Lagos) seria de cerca de 3 graus leste.

 

(na figura ângulos muito exagerados para facilitar a leitura)

 

dec5.png

Fig. Nº 39 – declinação 6º Leste

 

Ao ser instaladas a bordos das embarcações em Lisboa ou em Lagos, poderíamos observar o seguinte, olhando a agulha de marear:

 

dec6.png

 

Caso o norte geográfico fosse conhecido então era possível verificar que a flor-de-lis não estava fixa nos pólos. No entanto o ângulo era muito pequeno, cerca de três graus, um quarto de quarta, pelo que acreditamos que na maior parte das vezes, nomeadamente numa fase muito inicial da expansão portuguesa, esta variação não era detectada ou até mesmo ignorada.

Navegando para sul, acompanhando a costa do norte de África, a declinação pouco alterava, mantendo-se praticamente idêntica à de Portugal, eventualmente diminuindo em um grau, mantendo-se as mesmas dificuldades na detecção desta variação ou em condições para que fosse considerada como relevante por parte dos pilotos.

Com a navegação em mar alto, como por exemplo para os Açores e na volta da Mina, esta situação alterou-se radicalmente como iremos seguidamente ver.

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